quarta-feira, 6 de abril de 2011

A vida em apenas um ato.

É mais ou menos assim que alguns de nós passamos a nos sentir depois de certo amadurecimento, conforme avanço da idade. Não estou, porém, me referindo a velhice – aquela cheia de rugas e dores musculares – mas da maturidade que, na maioria dos casos, acompanha os símbolos de dois – às vezes três! – dígitos comumente usados para indicar quantas velinhas apagamos e de quantos movimentos de translação fizemos parte.
Basta amadurecer para ter plena consciência de atos e escolhas “erradas” e querer voltar no tempo e mudar muita coisa, pouca coisa, uma vírgula talvez… E isso não está embutido em um sentimento saudosista, é consciência da falta de jogo de cintura e tato que temos no decorrer da vida, diante de algumas situações.

Muitos são os caminhos

Especialistas da área defendem que isso faz parte do crescimento evolutivo como seres humanos, pois quanto mais se tem consciência de suas próprias falhas, mais preparados para viver nos tornamos.

Já foi dito que o crescimento vem somente por meio da dor; e durante a vida são várias as que nos cercam desde a decepção de uma paixão à perda de um ente querido. Do brinquedo preferido que quebrou e virou lixo à(o) namoradinha(o)  que se mudou e nunca mais vimos. Daquele trabalho bacana que tínhamos – e só nos demos conta quando perdemos – a palavras que devíamos ter dito e economizamos. Viagens que não fizemos, paixões que não vivemos, escolhas que deixamos de fazer.

A vida é isso: um grande leque de escolhas.

E quando nos damos conta de que não há escolhas erradas, apenas ação e reação, causa e efeito; que cada uma delas leva a outro caminho abrindo um leque de possibilidades, queremos voltar no tempo, refazer, arrumar, modificar, evitar, desviar… Uma gama de pensamentos sobre como seria se não fosse ou se fosse, como seria?
Conhecemos pessoas que vivem a vida intensamente e tanto que tem sobre si, além da decrépita inveja, motivos de falatório, difamação, calúnia e adjacentes. Estas são as que não se rendem ao comumente usado “esquema das coisas” e diferem das massas justamente por não ter medo de errar. Estão sempre apostando, seja lá qual for o resultado, pois têm consciência de que só saberão se tentarem e, ainda que errem, terão provado.
Apesar do frenesi que causam com seu modus vivendi, vivem conscientes de que só há uma maneira de viver bem: não economizar vida, não ter medo de viver.

O esquecimento do trajeto

Neste quesito, crianças são pontos de referência incondicional. Enquanto crescem não têm medo de arriscar e tudo o que lhes causa curiosidade é digno de ser explorado não importando jamais o resultado, seja aquela cicatriz ao cair de bicicleta ou o braço engessado pela queda de uma árvore. Elas simplesmente mergulham de corpo e alma em qualquer pseudoaventura ou aprendizagem sem se importar com o preço a pagar.
O problema é que, quando se tornam adultas, com seus milhões de compromissos, horários, faturas, status e responsabilidades, passam a se preocupar mais com os resultados do que com a emoção das descobertas. Torna-se mais fácil viver no automático do que tomar as rédeas da própria vida.
Esquecem-se, porém, que o tempo voa e quando se dão conta de que viver é muito mais do que seguir regras comportamentais ou de etiqueta o instante já foi e ficará mais uma vez no passado, querendo ser mudado.

Retomando a direção

A cada início de ciclo de um novo ano, fazemos listas e mais listas de promessas a nós mesmos e aos outros, metas a seguir, sonhos a conquistar etc. Cada uma delas cheias de ações que nos trarão prazer, seja pessoal, profissional ou o escambau. E no findar deste ciclo a maioria se dá conta de não ter feito sequer metade daquilo que planejou no começo do ano.
Talvez porque não haja mapa nem pistas quando se trata de vida. Um dia não é como o outro (graças!) e ainda que lhe pareça fazer parte de uma grande rotina (não se engane, nem o universo é assim) querer planejar vida é querer encontrar um pote de ouro no final de um arco-íris.
Rever alguns conceitos e programar algumas ações é importante. Querer controlar a vida passo a passo é loucura e perda de energia e tempo.
A “caixa de pandora” foi aberta para você quando veio a este mundo e tudo que o universo (Deus, Allah, Buda… Como preferir) pede em troca por essa dádiva é que faça o melhor que puder por si mesmo. Viva intensamente cada mísero instante antes que finde.

 Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os obstáculos. Uma só idade para nos encantarmos com a vida para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do instante que passa..  

Mario Quintana

 

 

 

 

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