É mais ou menos assim que alguns de nós passamos a nos sentir depois  de certo amadurecimento, conforme avanço da idade. Não estou, porém, me  referindo a velhice – aquela cheia de rugas e dores musculares – mas da  maturidade que, na maioria dos casos, acompanha os símbolos de dois – às  vezes três! – dígitos comumente usados para indicar quantas velinhas  apagamos e de quantos movimentos de translação fizemos parte.
Basta  amadurecer para ter plena consciência de atos e escolhas “erradas” e  querer voltar no tempo e mudar muita coisa, pouca coisa, uma vírgula  talvez… E isso não está embutido em um sentimento saudosista, é consciência da falta de jogo de cintura e tato que temos no decorrer da vida, diante de algumas situações.
Muitos são os caminhos
Especialistas da área defendem que  isso faz parte do crescimento evolutivo como seres humanos, pois quanto  mais se tem consciência de suas próprias falhas, mais preparados para  viver nos tornamos.
Já foi dito que o crescimento vem somente por meio da dor; e durante a  vida são várias as que nos cercam desde a decepção de uma paixão à perda  de um ente querido. Do brinquedo preferido que quebrou e virou lixo  à(o) namoradinha(o)  que se mudou e nunca mais vimos. Daquele trabalho  bacana que tínhamos – e só nos demos conta quando perdemos – a palavras  que devíamos ter dito e economizamos. Viagens que não fizemos, paixões  que não vivemos, escolhas que deixamos de fazer.
A vida é isso: um grande leque de escolhas.
 E quando  nos damos conta de que não há escolhas erradas, apenas ação e reação,  causa e efeito; que cada uma delas leva a outro caminho abrindo um leque  de possibilidades, queremos voltar no tempo, refazer, arrumar,  modificar, evitar, desviar… Uma gama de pensamentos sobre como seria se  não fosse ou se fosse, como seria?
Conhecemos pessoas que vivem a  vida intensamente e tanto que tem sobre si, além da decrépita inveja,  motivos de falatório, difamação, calúnia e adjacentes. Estas são as que  não se rendem ao comumente usado “esquema das coisas” e diferem das  massas justamente por não ter medo de errar. Estão sempre apostando,  seja lá qual for o resultado, pois têm consciência de que só saberão se  tentarem e, ainda que errem, terão provado.
Apesar do frenesi que causam com seu modus vivendi, vivem conscientes de que só há uma maneira de viver bem: não economizar vida, não ter medo de viver. 
O esquecimento do trajeto
Neste quesito, crianças são pontos de referência incondicional. Enquanto crescem não têm medo de arriscar e tudo o que lhes causa curiosidade é digno de ser explorado não importando jamais o resultado, seja aquela cicatriz ao cair de bicicleta ou o braço engessado pela queda de uma árvore. Elas simplesmente mergulham de corpo e alma em qualquer pseudoaventura ou aprendizagem sem se importar com o preço a pagar.O problema é que, quando se tornam adultas, com seus milhões de compromissos, horários, faturas, status e responsabilidades, passam a se preocupar mais com os resultados do que com a emoção das descobertas. Torna-se mais fácil viver no automático do que tomar as rédeas da própria vida.
Esquecem-se, porém,  que o tempo voa e quando se dão conta de que viver é muito mais do que  seguir regras comportamentais ou de etiqueta o instante já foi e ficará  mais uma vez no passado, querendo ser mudado. 
Retomando a direção
A cada início de ciclo de um novo ano, fazemos listas e mais listas  de promessas a nós mesmos e aos outros, metas a seguir, sonhos a  conquistar etc. Cada uma delas cheias de ações que nos trarão prazer,  seja pessoal, profissional ou o escambau. E no findar deste ciclo a  maioria se dá conta de não ter feito sequer metade daquilo que planejou  no começo do ano.
Talvez porque não haja mapa nem pistas quando se  trata de vida. Um dia não é como o outro (graças!) e ainda que lhe  pareça fazer parte de uma grande rotina (não se engane, nem o universo é  assim) querer planejar vida é querer encontrar um pote de ouro no final  de um arco-íris.
Rever alguns conceitos e programar algumas ações  é importante. Querer controlar a vida passo a passo é loucura e perda  de energia e tempo.
A “caixa de pandora” foi aberta para você  quando veio a este mundo e tudo que o universo (Deus, Allah, Buda… Como  preferir) pede em troca por essa dádiva é que faça o melhor que puder  por si mesmo. Viva intensamente cada mísero instante antes que finde.
 Existe apenas uma idade para sermos felizes, apenas uma época da vida de  cada pessoa em que é possível sonhar, fazer planos e ter energia  suficiente para os realizar apesar de todas as dificuldades e todos os  obstáculos. Uma só idade para nos encantarmos com a vida para vivermos  apaixonadamente e aproveitarmos tudo com toda a intensidade, sem medo  nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que podemos criar e recriar a  vida à nossa própria imagem e semelhança, vestirmo-nos de todas as  cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos a todos os amores  sem preconceitos nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que toda a  disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes for preciso.  Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se presente e tem a duração do  instante que passa..  
Mario Quintana

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