A menina adorava imitar a mãe em tudo. Era  seu espelho. Aos três anos de idade, via aquela mulher que, para ela,  era a mais linda do mundo, pentear-se, maquiar-se. Depois, esperava um  descuido, um piscar de olhos, para fazer tudo igual – à medida que  permitiam seus três aninhos. 
 Depois  de uma sessão de embelezamento da mãe, correu para o quarto. Subiu na  cama para conseguir acesso à cômoda. Lá estava tudo do que precisava.  Dali, alcançava o espelho, os acessórios, a maquiagem e um objeto com o  qual não tinha muita intimidade, mas arriscaria. Afinal, se deu certo  com a mamãe, por que não? 
 Decidiu  que ficaria bem com a franja mais curta. Com uma mão, agarrou uma boa  mexa de cabelos e, num golpe só, passou-lhe a tesoura. Saindo do banho, a  mãe viu logo a desgraceira. Um monte de cabelo na mão, a tesoura na  outra e outra parte da cabeleira no chão. “Fiquei bonita, mamãe?”. 
 A  mãe achava engraçado, mas também estava desolada. “Minha filha, o que  você fez?”. “Ficou igual ao seu”, respondia a garotinha. O pai, ao  vê-la, engoliu um palavrão. A mãe decidiu que seria sua primeira ida ao  cabeleireiro. Definitivamente, ela precisaria de ajuda profissional. Lá  foram as duas. 
 Horas  depois, voltam com a novidade. O único jeito que o cabeleireiro  encontrou de amenizar o desastre foi deixando-a de cabelos curtos. Ao  vê-la, o irmãozinho de cinco anos largou tudo o que estava fazendo. O  brinquedo não lhe interessava mais. Os olhinhos brilharam. “Que  maravilha! Ela virou um menino! Agora eu tenho um irmãozinho pra brincar  muito mais!.
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário