Os hotéis e o cinema têm algo em comum: as estrelas. E os dois  decidiram tirar proveito de tal coincidência. Filmes como "Room  Service", dos irmãos Marx, ou a comédia "Four Rooms" ("Grande Hotel", no  título em português, de Quentin Tarantino) encerraram suas tramas nos  corredores de um hotel, enquanto na localidade californiana de Long  Pine, por outro lado, promovem os quartos do Dow Villa Motel porque ali,  terra de deserto, se hospedava John Wayne durante a filmagem de alguns  de seus clássicos.
Em São Francisco, o hotel onde Hitchcok rodou  "Vertigem" acabou adotando o nome do próprio filme, enquanto Las Vegas,  cidade símbolo da arquitetura hoteleira - com seus cassinos dentro,  certamente -, foi palco de uma infinidade de filmes, entre eles a saga  de "Ocean's Eleven" (o primeiro filme da série, uma refilmagem de "Onze  Homens e Um Segredo"), que escolheu o hotel Bellagio e suas fontes  dançantes para dar o grande golpe.
Pagar por seu pior  pesadelo, embora não o pareça, também pode chegar a ser uma demanda  turística. Enquanto o Motel Tacos foi recriado em um estúdio pela equipe  de Hitchcock - e construído depois como atração no parque temático dos  estúdios Universal - vários hotéis estão vinculados a um dos alojamentos  cinematograficamente mais aterrorizadores do mundo: o que Jack  Nicholson cuida em "O Iluminado", adaptação do romance de Stephen King  realizada por Stanley Kubrick.
Stanley chamava, curiosamente, o  hotel de Colorado, no qual King escreveu parte de sua aterrorizante  trama e, nele, o quarto 217 é o destaque, pois ali o autor ficou  hospedado.
Mas os verdadeiros corredores pelos quais o pequeno  Danny perambulava com seu triciclo e encontrava as inquietantes gêmeas  ficam no hotel Timberline, no estado do Oregon.
Os donos do hotel  pediram a Kubrick que mudasse o quarto 217 pelo 237, que na realidade  não existia e que, caso contrário, estaria condenado à superstição.
Em  1932, Hollywood decidiu somar às cinco estrelas de "Grande Hotel" todas  as de seu próprio firmamento: Greta Garbo, John e Lionel Barrymore,  Joan Crawford e Wallace Berry se reuniram em um luxuoso estabelecimento  hoteleiro de Berlim.
Para a eternidade ficou a frase de Garbo "Quero ficar só..." e o Oscar que ganhou como melhor filme do ano.
Também  ganhou esse mesmo prêmio, embora em 1972, "O Poderoso Chefão", no qual o  Edison Hotel de Nova York era palco de um brutal assassinato... E de um  massacre, precisamente o do Dia de São Valentim, fugiam Jack Lemmon e  Tony Curis em "Quanto Mais Quente Melhor", para acabar como travestis no  Hotel del Coronado, em San Diego.Romances com serviço de quarto
Os hotéis  também são templos do amor e do sexo, por isso que Julia Roberts e  Richard Gere em "Uma Linda Mulher" dispararam as visitas ao Regent  Beverly Wilshire Hotel, em cuja banheira redonda a atriz do sorriso mais  famoso de Hollywood tomou um banho de espuma.
Sofia Coppola - que  passou parte de sua infância de hotel em hotel e sempre se sentiu  fascinada pela vida efêmera do ambiente - consagrou sua rara habilidade  de extrair a beleza do mínimo em "Encontros e Desencontros", filme no  qual uma jovem americana recém-casada (Scarlett Johansson) e um ator  maduro (Bill Murray) se encontram tão fora do mundo que desembocam em  uma atípica e muito sutil história de amor.
Entre o exotismo  urbano de Tóquio, o Park Hyatt da capital japonesa fazia as vezes de  lar, com lugares que ficaram famosos a posteriori como sua cafeteria, o  New York Bar, tão fotogênico como proibitivo por causa de seus altos  preços.
O hotel mais ligado à mitologia em volta de seu papel como palco cinematográfico é o Hotel dês Bains, em Veneza.
Ali  Visconti rodou sua magistral "Morte em Veneza", adaptação do livro de  Thomas Mann, na qual um compositor aristocrata acaba morrendo em uma  praia veneziana obcecado pela perfeição física de um adolescente que  também mora nesse mesmo hotel.
Hoje em dia, o Hotel dês Bains está  em plena reforma para se reconverter em luxuoso alojamento, mas durante  anos foi objeto de uma macabra peregrinação: transformado o filme e o  livro em verdadeiros ícones da cultura gay, ocorreu uma presença  insistente de homossexuais que, em um último estertor de luxuosa  decadência, se alojavam nos melhores quartos do hotel antes de se  suicidar... E deixar as contas sem pagar, claro.





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