quarta-feira, 20 de abril de 2011

A mediação das relações conjugais


Tive a oportunidade de ouvir em um programa de televisão a seguinte frase: ”Fica quieta e ‘bota’ a minha comida”, a partir disto fiz uma analogia com as relações de sadismo e masoquismo e fiquei me questionando sobre a violência doméstica e os chamados “amores bandidos”. Consequentemente, minha memória remeteu-se para alguns casos de mediação familiar, especificamente, no âmbito conjugal. Estando absorvendo o conhecimento da Psicologia, não consigo olhar para uma situação de mediação sem fazer a leitura dos fatos apresentados e “costurar” as informações que são trazidas pelos casais em uma situação de mediação. Por isto penso que em alguns casos, os amores podem ser definidos como “bandidos”.
Geralmente nas relações de “amores bandidos” encontra-se sempre um que exerce o domíneo, e outro que é dominado, alterando assim doses de sofrimento e paixão o que gera a ambivalência da relação. A impotência do dominado se torna arrebatadora e torna o ser humano insensato, o amor ardente embota a racionalidade e torna a relação abusiva e viciante, até o ponto de surgir a violência doméstica, onde o dominado vive uma vida tóxica, de dependência emocional, dependência do outro. Assim como existem pessoas que não resistem ao desejo do álcool ou drogas, existem aquelas que não resistem a sedução do outro, comparando-se, metaforicamente e superficialmente com outras patologias, atrevo-me a dizer que se assemelha a bipolaridade, ou seja, assim como na bipolaridade hora se está na mania, hora na depressão, na relação viciante do “amor bandido” hora se está na briga, hora no desejo, como em uma brincadeira de infância de mau me quer, bem me quer.
Os traços depressivos, tristes e o sentimento de vergonha daquele que sofre a violência são disfarçados, muitas vezes, pela raiva que esconde, pelo medo do outro e os conflitos de uma relação mal resolvida. Pergunta-se então, porque esta pessoa que sofre a violência simplesmente não pede a separação, e o surpreendente muitas vezes é ouvir a resposta: “se está ruim com ele, pior sem ele”.Talvez isto se explique pelo temor da solidão, e temendo ficar só quem sofre a violência deposita no outro confiança e o desejo da mudança, uma vez que pensa ser sempre o outro quem precisa mudar. Na realidade quem precisa mudar é também quem sofre a violência, pois esta transferência do amor pelo outro para a raiva de si mesmo implica em permanecer em um pensamento regressivo, em ser tolerante com a situação.
Quem são os culpados? Ninguém, pois na verdade ambos têm o desejo de manter uma relação idealizada, e nesta relação não existe espaço para aceitar que as coisas mudam, não existe lugar para suportar a realidade do dia-a-dia, logo nos “amores bandidos” a vítima também é bandido, pois ambos estão aprisionados e não tem a chave da porta da prisão.
O casal que vive uma relação de amor disfuncional sempre tende a pensar que tudo é “apenas uma fase”, e tornam-se marionete um do outro, não conseguindo estabelecer vínculos sustentáveis e no lugar de oferecer o que tem de melhor ao outro para ascender seu crescimento, atua a construção mal resolvida do outro.
É claro que amores disfuncionais ou “bandidos” não justificam a violência doméstica, ao contrário, a violência é o último estágio de um amor disfuncional, pois o “amor bandido” mau trata em silêncio, quando a violência física surge este silêncio é quebrado pois o outro já se transformou em figura depositária para o amargo de uma relação.
E, então o que fazer para mudar isto? Eu diria conhecer a si mesmo, esta é a melhor maneira de conhecer o outro, afinal o homem é mil e apenas um.
Logo para haver mediação familiar nas questões conjugais, é necessário ter a perspicácia para compreender e saber avistar se aquela relação que se apresenta é de amor, de ódio ou apenas de desejo seguido da sustentabilidade existente entre amor e ódio.
No amor funcional, existe a troca, a entrega e a proximidade, nele os personagens utilizam os olhos da “alma”, os ouvidos do coração e também da razão, pois o amor às vezes necessita ser racional.
Um mediador familiar é como um “consumidor”, a diferença é que não procura o “produto”, é o suposto “produto”, em termos metafóricos, é que o procura por não estar dando conta de seus conteúdos internos. A semelhança entre a mediação e o casamento é que ambos são como embalagem, à medida que se abre se descobre o produto.

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