segunda-feira, 18 de abril de 2011

As vezes é bom parar..


Poucas coisas me fazem parar, até porque não tenho tempo para parar e se o fizer eu me atraso. Entretanto hoje depois de passar o dia entre leituras de livros e artigos científicos, pensando, escrevendo, produzindo e estudando muito.Resolvi parar por alguns  instantes para  abri meus e-mails e vi que recebi de uma amiga o texto "Duas bolas", de autoria de Danuza Leão, a leitura deste me fez parar e pensar em algumas coisas e lembrei-me que justamente devido a correria dos últimos dias, não tive tempo nem para postar no blog,(Não como gostaria) vontade não me faltou, muito menos idéias, o que me faltou e ainda me falta é tempo. Ah! O tempo! Enfim, segue o texto que me fez parar para olhar "minhas coisas"   Vou compartilhar por que sei que muitas pessoas também estão como eu e gostariam que seus dias fossem de 50 horas.


Duas Bolas (Danuza Leão)

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido! Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons. Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai. Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação... Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e, existencialmente, sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções. Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'... Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado. Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódiosdo CSI, uma caixa de trufas bem macias e o Ashton Kutcher nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem. Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .

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