quinta-feira, 21 de março de 2013

Dieta da USP provoca efeito sanfona, mau-humor e cansaço


Especialistas alertam para os maiores efeitos desse método restritivo

prato com uma fita métrica - Foto: Getty Images
A recente febre pelas dieta das proteínas também deu vida nova a dieta da USP, muito famosa na década de 90, que promete a perda de até 10 kg em 15 dias e é baseada em um cardápio proteico, como a Dieta Atkins ou a Dieta Dukan - baixo consumo de carboidratos e alto consumo de proteínas e gorduras de origem animal. Apesar de levar esse nome, a dieta não recebe o endosso de profissionais da Universidade de São Paulo. O cardápio é montado para sete dias e deve ser seguido por duas semanas, com um intervalo de um dia entre os dois ciclos, no qual se pode ter uma alimentação normal. As refeições incluem basicamente café, limão, biscoito salgado, ovos, frango, peixes, carne vermelha, queijo branco, cenoura, tomate, vagem, ervas (agrião, chicória e alface), presunto e iogurte natural, com frutas liberadas a partir do quinto dia. As bebidas alcoólicas estão proibidas e o consumo de café, água e chás é liberado, desde que com adoçante. Como você deve imaginar, trata-se de uma dieta hipocalórica (com baixo consumo de calorias diariamente) que pode causar uma série de prejuízos ao organismo. Confira abaixo o que os especialistas dizem sobre a dieta da USP: 

Você perde 10 kg do quê?

O cardápio da dieta da USP é composto basicamente por proteínas, gorduras e líquidos. "Há salada e frutas em algumas refeições, que dão o aporte de fibras, mas a base da dieta é proteica", afirma a nutricionista Fabiana Donadussi, do Spa Fazenda Igaratá, em São Paulo. Isso, somado às poucas calorias ingeridas diariamente faz com que o corpo pare de queimar carboidratos e passe a usar massa magra para obter energia. E o tecido muscular é o tecido mais rico em água do nosso organismo. "Dessa forma, muito líquido é perdido, além de músculo e gordura", explica a nutricionista. No entanto, queimar tecidos musculares e líquidos no lugar da massa gorda não é saudável para o corpo, que fica debilitado e sem energia.  

Sentindo os efeitos colaterais

Como todas as dietas que prometem perda de peso rápida e de base proteica, os efeitos colaterais não demoram a surgir. Com a queima da gordura para gerar energia, o corpo começa a produzir em excesso os chamados corpos cetônicos, que são substâncias que fornecem energia para o corpo assim com a glicose vindo dos carboidratos, porém, em menor quantidade. Os corpos cetônicos serão excretados pelo corpo através do suor, da urina e do hálito, deixando-os com um cheiro forte. "Esse tipo de dieta também está relacionada ao mal-estar, tontura, cansaço, fraqueza muscular, desatenção e estresse", diz o nutricionista Omar de Faria, do Centro de Longevidade Golden Spa, no Rio de Janeiro. Dessa forma, é muito comum as pessoas que fazem essa dieta passarem os 14 dias mais irritadas e com dificuldade para fazer atividades simples do dia a dia, como subir escadas ou mesmo se concentrar no trabalho.  
mulher cansada no trabalho - Foto: Getty Images

A dieta acaba... E os quilos voltam

Um dos maiores problemas de uma alimentação restrita é o efeito sanfona, e a dieta da USP não foge a essa regra. "Quanto mais radical e hipocalórica é uma dieta, maior a chance de um efeito rebote", alerta a nutricionista Fabiana. Isso acontece em um primeiro momento porque os quilos perdidos são constituídos basicamente de líquidos, que são rapidamente recuperados. "Ao voltar aos hábitos alimentares rotineiros, você também aumenta a ingestão calórica rapidamente e seu corpo começa a repor toda a gordura e músculos perdidos", completa. Além disso, sua alimentação normal nem sempre é saudável e não está focada na manutenção do peso, o que pode contribuir para os quilos voltarem à balança. 
mulher na balança - Foto: Getty Images

O consumo de líquidos deve ser controlado

Na dieta USP é permitido o consumo de chás, água e café à vontade - que a princípio parece uma boa recomendação, mas o tiro pode sair pela culatra. "A necessidade hídrica de um indivíduo é variável e dependerá da fase da vida, idade, prática de atividade física e outros fatores que podem ser determinados por um médico", ressalta a nutricionista Fernanda Amorim Nascimento, do Centro Universitário Celso Lisboa, no Rio de Janeiro. A Organização Mundial de Saúde recomenda o consumo de dois litros de água por dia para manter o corpo funcionando de forma saudável, meta que pode não ser atingida facilmente quando partilhada com o consumo desenfreado de outros líquidos. Apesar de pouco calóricos e muito saudáveis, os chás e o café podem causar prejuízos ao organismo se consumidos em excesso. "A inclusão desordenada de chás e cafés na dieta pode gerar deficiências nutricionais, uma vez que a cafeína compete com a absorção de alguns nutrientes, como o ferro, e por isso líquidos com essa substância não podem ser consumidos juntamente com as refeições", afirma a nutricionista Fernanda. Além disso, pacientes com problemas gástricos devem ter o café e alguns tipos de chás restritos da dieta, de forma que não afetem a mucosa gástrica e tenham uma piora no quadro
homem bebendo uma garrafa de café - Foto: Getty Images

Dieta hipocalórica afeta o metabolismo

Essencialmente, a dieta da USP conta com apenas três refeições diárias - café da manhã, almoço e jantar. Circula na internet uma variação dessa dieta, que mantêm o cardápio da dieta original e acrescenta dois lanches intermediários constituídos sempre de uma porção de fruta pela manhã e gelatina diet à tarde. A nutricionista Fabiana afirma que longos períodos de jejum levam a uma queda no metabolismo, diminuindo o gasto calórico basal e aumentando a fome nas grandes refeições, podendo levar à desistência da dieta seguida de exagero alimentar. "A ideia de que quanto menos se come mais se emagrece não é real", alerta. "Se o organismo recebe pouca comida, ele pode encarar como um período de fome e em vez de gastar calorias, vai poupá-las até entender que você encontrou comida novamente." De acordo com a especialista, mesmo a versão da dieta que possui os lanches intermediários não dá aporte calórico suficiente para o metabolismo funcionar como deveria.  
prato com uma ervilha em cima - Foto: Getty Images

Restrição leva à desistência

Os cardápios montados para serem seguidos à risca nem sempre agradam a todos os paladares. No entanto, a regra é clara: não é permitido trocar as refeições nem horário nem substituir um ingrediente por outro. "Cada indivíduo tem hábitos e rotinas diferentes, e uma alimentação que não atenda essas necessidades pode causar desmotivação e desistência, afetando diretamente a autoestima", explica a nutricionista Fabiana. "Por isso é importante uma dieta personalizada e adaptada para as necessidades e disponibilidade de cada um, como em uma reeducação alimentar."
Mulher triste com o prato de comida - Foto: Getty Images

Consumo de adoçantes pede atenção

Durante a dieta da USP, não é permitido adoçar nada com açúcar, apenas adoçante, para o qual não é estabelecido um limite de consumo diário. A nutricionista Fabiana afirma que os limites máximos diários de adoçantes são muito altos e difíceis de ser alcançados, mesmo para uma dieta que libera o consumo de cafés e chás adoçados com a substância. No entanto, pesquisas apontam que o consumo desenfreado e contínuo de aspartame (adoçante de mesa mais comum) libera no sangue uma substância chamada fenilalanina, que em alta concentração no cérebro pode causar desordens como depressão, dor de cabeça, esquizofrenia e aumenta o risco de infarto.  
pessoa colocando adoçante no café - Foto: Getty Images




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