terça-feira, 12 de março de 2013

Champanhe com pizza? Por que não?


Uma pizza de qualidade merece uma bebida à altura. Se o vinho cai bem, melhor ainda um com borbulhas

Eu sei o que você está pensando: o que há de novo para ser dito a respeito do vinho e da pizza? Não há nada. Basta pegar um vinho tinto italiano fresco, não muito caro, como o Barbera d'Alba ou o Dolcetto di Dogliani, e pronto. Permita-me então sugerir algo totalmente diferente: champanhe. Sim, champanhe. Se lhe parece exagerado juntar o elegante champanhe com uma humilde pizza, talvez seja porque nós subestimamos a pizza.
Primeiro, devemos deixar de pensar na pizza apenas como uma comida rápida. Claro, muitas pizzas são feitas de ingredientes industriais pobres e trazidas apressadamente em uma caixa de papelão encharcada até nossa porta. O que essas pizzas produzem? Uma sensação de queimação no céu da boca. Mas uma boa pizza é algo totalmente diferente. Ingredientes finos, como farinha pura, tomates San Marzano, mussarela de búfala, sal, manjericão fresco e azeite de oliva podem chegar perto da perfeição. Uma boa pizza margherita, feita apenas com esses ingredientes, é um ideal platônico, elegante em sua simplicidade. Por que não com champanhe? 
Se você não acredita em mim, experimente. Eu escolheria um bom champanhe não envelhecido, algo mais robusto que um blanc de blancs, algo com um certo brio, como, digamos, um Bollinger Special Cuvee, que fará ecoar e ampliará os sabores salgados, doces e a levedura da pizza. A excelente carta de vinhos de um restaurante de Nova York oferece um champanhe rosé da Billecart Salmon que acho que combinaria muito bem com uma pizza simples. 
O fato é que a pizza é um daqueles raros alimentos de tal versatilidade dos quais pode se desfrutar com uma variedade enorme de diferentes bebidas. Claro, algumas coisas vão conflitar com a pizza ou atenuar o seu sabor, como vinhos com gosto muito acentuado de carvalho e pouca acidez. Mas a maioria das combinações, inclusive com champanhe, funciona bem. É uma alegria experimentar e fazer suas próprias descobertas. 


Infelizmente, o que geralmente deve ser um processo descontraído de seleção de uma bebida às vezes pode se reduzir a uma análise exagerada das combinações. Especificar obsessivamente sugestões e regras rígidas pode ser bom para os restaurantes mais seletos, mas não para os jantares informais em casa. 
O que inibe não são apenas os casamentos entre comida e vinho. Quem já não topou com um intrometido bem-intencionado que considera ter o dever de informá-lo, bem no momento em que você está decidindo que vinho pedir para acompanhar a sua pizza margherita, que os italianos preferem beber cerveja com pizza? Aliás, eles não pedem apenas cerveja. Gostam de Coca-Cola com pizza. Na verdade, se é que se pode falar no geral sobre um povo de gostos diversos, os italianos consideram basicamente qualquer bebida com borbulhas como um bom acompanhamento para a pizza, o que remonta ao champanhe. 
O champanhe não deveria mais se limitar às visões de gala de seus marqueteiros. Claro, ele pode ser sofisticado, mas também pode ser tão atrevido, terroso e comum quanto quisermos que ele seja. O único argumento contra o champanhe com pizza pode ser o preço. Se esse fator for levado em consideração, as borbulhas na taça não precisam ser de um Champenois. O Gragnano, um tinto efervescente da Campânia, é um excelente vinho para acompanhar pizzas. Um lambrusco bom, terroso, também iria muito bem, assim como inumeráveis outros vinhos efervescentes. 


Não preciso nem dizer que a cerveja é um ótimo complemento para a pizza, desde que seja uma cerveja digerível e não algo contemplativo, tão poderoso, que deva ser bebido lentamente. Para acompanhar uma pizza, uma cerveja deve ser fresca, vivaz e amarga, com uma agradável acidez. Isso deixa bastante margem para a experimentação. As Pilsners são uma escolha ótima, mesmo que óbvia, mas se você quiser algo um pouco mais esotérico, as cervejas belgas do tipo lambic e as cervejas amargas em geral combinam maravilhosamente bem. Mas é importante não pensar demais. Se você prefere uma India pale ale ou uma stout, por que não? Qualquer coisa com borbulhas. 



No caso dos vinhos, a maioria das pessoas pede reflexivamente um tinto para acompanhar a pizza, mas não dispense os brancos, especialmente os brancos secos com uma acidez acentuada. Os da Campânia, território natal da pizza, são excelentes, mesmo que as uvas não sejam muito conhecidas, como uma falanghina ou uma fiano di avellino. Experimente o Soave ou mesmo um Riesling bom e seco. Pensando bem, na próxima vez em que eu for comer pizza, posso provar um Vouvray.
Não pretendo, de jeito algum, dizer que os brancos são melhores do que os tintos com pizza. Eles são apenas mais uma opção satisfatória. Os tintos serão sempre o vinho que costuma ser pedido com pizza, mas não se preocupe muito com a combinação perfeita. Lembro-me de um artigo publicado em uma revista há alguns anos, que sugeriu que a escolha de um vinho depende dos ingredientes da pizza: pinot noir com uma pizza de cogumelos, primitivo com pepperoni, barbera com tomates frescos, e assim por diante. Faça-me o favor. 
Recentemente, pedi um pinot noir californiano que ficou delicioso com uma pizza napolitana simples, embora ela não tivesse um cogumelo sequer. Era um Clos Saron de 2005, vindo do vinhedo Texas Hill Road, que fica no sopé da Serra Nevada. O que fez o vinho ficar tão bom com a pizza? Ele era seco, fresco e vivaz, e sua acidez conservava o sabor do vinho através dos ricos sabores de queijo e tomate doce. Se o vinho tivesse sido de outro estilo (com sabor de carvalho, digamos, ou impregnado de poderosos sabores frutados), teria sido neutralizado pela pizza, com ou sem cogumelos. 
Claro, os tintos italianos já foram testados e aprovados: os barberas, dolcettos e sangioveses frescos combinam muito bem, mas não ignore os tintos promissores da Sicília, como os frappatos, Cerasuolos di Vittoria e nerello mascaleses do Monte Etna. Não deixe de considerar os aglianicos da Campânia e Basilicata e os tintos mais robustos de todos os rincões da Itália, seja o Valpolicella do Veneto ou o Savuto da Calábria. Mas por que parar na Itália? Os beaujolais e os Côtes du Rhône também funcionam, assim como um efervescente zweigelt austríaco e muitos outros. 


Embora a pizza seja geralmente barata e considerada informal, os vinhos não precisam ser assim. Charles Scicolone, um consultor de vinhos, gosta de beber ótimos Barolos antigos com pizzas grandes de margherita, bem como champanhe. E por que não? "Acho que as pessoas realmente subestimam a pizza porque existem muitas pizzas terríveis", disse ele. "Se você vai comer uma boa pizza, por que não beber um vinho melhor com ela?" 


Alta gastronomia

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