segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Por que a virgindade feminina é tão valorizada?

Brasileira leiloa sua primeira noite de sexo e lances ultrapassam meio milhão de reais, enquanto homem que participa do mesmo projeto tem proposta máxima de R$ 3 mil

 

Uma brasileira de 20 anos ganhou as manchetes quando veio à tona o curioso projeto do qual está participando. Catarina Migliorini está leiloando a sua virgindade através de uma produtora australiana, para um documentário intitulado “Virgins Wanted”. Além de Catarina, também participa do projeto o russo Alexander Stepanov, de 21 anos. Enquanto interessados por uma noite com Catarina se propõem a pagar o equivalente a mais de meio milhão de reais, os lances feitos pela virgindade de Alexander não ultrapassavam R$ 3 mil. Por que os valores são tão diferentes?

A antropóloga Mirian Goldenberg acredita que o simbolismo da virgindade feminina tem ainda forte influência na sociedade. “O homem, quando desvirginado, não perde nada. A mulher perde, mesmo que seja um pedaço minúsculo de pele. Esse pedaço simboliza algo importante, o fato dela nunca ter sido possuída por ninguém”, afirma.
Historicamente a virgindade feminina sempre teve um valor alto, não necessariamente monetário. Há não muito tempo, se a mulher não fosse mais virgem, não servia para casar e poderia até perder o convívio com a família. Mesmo em muitas sociedades que avançaram no conceito de igualdade entre homens e mulheres, a virgindade feminina mantém seu status de preciosidade.

“Vivemos em uma cultura patriarcal que está perdendo suas bases, mas ainda existe. A questão da virgindade sempre foi usada como se fosse algo precioso e ainda é vista dessa maneira por muita gente”, diz a psicanalista e escritora, autora de “O Livro do Amor” (Ed. Best Seller) Regina Navarro Lins.
Ao contrário da brasileira que concordou em colocar um preço na sua virgindade, a funkeira Valesca Popozuda, conhecida por cantar letras eróticas e afirmativas do prazer feminino, acredita que é impossível chegar a um valor. “A virgindade é importante para quem tem. Não tem preço”.
“O escolhido”
Mesmo que a importância da virgindade feminina seja um consenso entre especialistas, um aspecto do leilão não pode ser ignorado: a participação ativa da mídia em divulgar o valor da transa a cada lance dado. “Será que alguém pagaria R$ 500 mil para desvirginar uma mulher se não fosse um evento público, disseminado nas redes sociais? Alguém pagaria isso se apenas o homem e a mulher soubessem? A resposta provavelmente seria ‘não’”, afirma a sexóloga Walkíria Fernandes.

O desejo do homem de tirar a virgindade de uma mulher também pode ser impulsionado por motivos bem mais práticos. “Transar com uma virgem pode significar que esse homem está isento de ter o seu desempenho sexual comparado ao de outros homens, já que ela, por ser virgem, não tem nenhuma referência da atuação sexual de outro homem. Além disso, ser o primeiro homem na vida sexual de uma mulher faz com que ele se sinta privilegiado por ter sido ‘o escolhido’”, completa Walkíria.

Quem quer transar com um homem virgem?
Se para a mulher a virgindade não é motivo de constrangimento, para o homem é diferente. A diferença entre os valores pelo mesmo “produto” no leilão de virgindade nada mais é do que um reflexo do que se espera dos dois gêneros entre quatro paredes.
De acordo com Walkíria, vivemos um duplo padrão de educação sexual. “O homem é educado para ser o garanhão e a mulher para ser apenas de um ou de poucos homens. Quanto mais a mulher se resguardar, mais será valorizada. Quanto mais experiências sexuais um homem tiver, mais macho ele será.”
“Se a mulher é valorizada pelo não conhecimento de uma vida sexual, o homem é muito mais cobiçado pela experiência que tem e não pela falta dela. Quantas mulheres gostariam de transar com um virgem?”, indaga a terapeuta sexual Luciane Secco.
Valesca se exclui. “Não tenho essa tara de ensinar. Acho que a transa deve ser como ir a um parque de diversões e isso só pode acontecer se os dois tiverem experiência”, diz.

Críticas
Enfrentando críticas severas, principalmente em grupos de discussão em redes sociais, a brasileira parece determinada a fechar negócio. Nem todos aceitam que a virgindade possa ser tratada como um “produto”, conferindo a seu dono a liberdade de vender ou dar para quem desejar. “Por mais que as mentalidades mudem ao longo do tempo, sexo ainda é tabu. O moralismo existe. As mulheres foram condicionadas a ver sexo só acompanhado de amor”, aponta Regina.
“Ainda existe essa ideia de que para as mulheres sexo e amor são coisas inseparáveis. Você não vende sexo, é como você se vender por inteira. Enquanto que para os homens é possível pensar que sexo e amor são coisas separadas. Quando eles traem, podem alegar que foi só sexo, mas como sabem que as mulheres pensam de outra forma, não aceitam a mesma justificativa quando elas a usam”, explica Mirian Goldenberg.

 

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