Aplicativos permitem aos adultos monitorar as atividades das crianças na internet, mas atitude é discutida entre pais norte-americanos
Quando seus filhos tinham idade suficiente para ter seus próprios laptops, Jill Ross comprou um software para vigiar o que eles pesquisam na internet. Um dia ela foi surpreendida ao descobrir que a filha de 16 anos montou seu próprio canal de vídeo.
Usando a câmera em seu laptop, ela e uma amiga estavam gravando
algumas brincadeiras de adolescente e as transmitindo pelo YouTube para o
mundo ver.
Para Ross, que vive nos subúrbios de Denver, essa foi não
só uma maneira de enxergar o que se passa na cabeça de sua filha, mas
também um símbolo dos novos obstáculos que os pais de hoje precisam
enfrentar. Ela não contou a sua filha que havia se registrado para
assistir o canal. A filha tampouco lhe disse que tinha um canal de vídeo
na internet.
“É uma maneira diferente de conhecer seus filhos”, disse Ross sobre sua descoberta.
Vigiar ou não?
Os pais hoje podem usufruir de uma variedade de ferramentas
para acompanhar as vidas digitais de seus filhos, o que levanta novos
dilemas. Será que vigiá-los é a melhor maneira de protegê-los? Ou os
pais devem confiar que as crianças contarão se ficarem com medo ou
desnorteadas por algum conteúdo encontrado online?
As respostas são tão variadas quanto os próprios pais. Mesmo
assim, as ansiedades dos pais na era digital criaram uma mini-indústria
de empresas startups e empresas estabelecidas que comercializam novas
ferramentas para rastrear onde as crianças vão online, que tipo de
conteúdo eles encontram lá e o que fazem.
Como as crianças estão sempre ligadas em seus smartphones, a
tecnologia pode permitir aos pais rastrear seu paradeiro físico e até
mesmo controlar a velocidade com a qual dirigem.
De acordo com uma pesquisa recente da Cox Comunicações e do
Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, uma família
americana usa em média cinco aparelhos conectados à internet em sua
casa, incluindo smartphones. Mas apenas um em cada cinco pais usa
softwares de controle sobre esses dispositivos.
Falta de confiança
Em Richmond, Virgínia, Mary Cofield, 62, é uma das
cuidadosas. Ela fez um acordo com sua neta de 15 anos de idade no ano
passado. Mary ofereceu à neta um celular Android com um pacote completo
de acesso à internet, desde que pudesse monitorar cada ação dela.
“Na minha opinião, você tem que participar de tudo isso para
ajudá-los a saber o que é errado e o que é certo”, disse. “Proibi-los de
usar essa tecnologia não funciona. Ou você decide participar com eles,
ou eles irão usufruir desse mundo sem você.”
Pesquisas descobriram que dois terços dos pais monitoram a
navegação infantil e quase 40% seguem seus filhos no Facebook e no
Twitter. Mas um estudo realizado pelo Pew Research Center indica que
este acompanhamento também costuma levar a discussões entre pais e
filhos.
A tecnologia é tão ágil como adolescentes, mas nem os pais nem a
própria tecnologia pode fazer uma leitura segura da mente de um
adolescente. Às vezes as crianças desativam suas contas do Facebook,
exceto à noite, quando sabem que seus pais provavelmente não estão
logados. Eles navegam em novos sites, muitas vezes usando pseudônimos.
Muitas vezes, falam em um código projetado para driblar a vigilância
paterna.
Lynn Schofield Clark deu a sua filha de 11 anos de idade um
iPhone desativado, apenas para ouvir música. A menina disse na mesma
hora que um amigo na escola havia lhe mostrado como baixar um aplicativo
que a permitiria enviar mensagens de texto e fazer chamadas - o que ia
contra os planos dos seus pais.
Clark, autora de um livro sobre estilos de educação dos filhos e
tecnologia chamado “App The Parent”, diz ter ficado aliviada porque sua
filha tinha confiado nela. Ela espera que continue a confiar, assim ela
não precisa controlar tudo que a criança faz online. “É muito fácil
ceder à fiscalização”, disse ela. “Isso mina nossa influência como pais.
As crianças interpretam a vigilância como uma falta de confiança.”
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