segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Pais usam tecnologia para vigiar vida online dos filhos

Aplicativos permitem aos adultos monitorar as atividades das crianças na internet, mas atitude é discutida entre pais norte-americanos

 

Quando seus filhos tinham idade suficiente para ter seus próprios laptops, Jill Ross comprou um software para vigiar o que eles pesquisam na internet. Um dia ela foi surpreendida ao descobrir que a filha de 16 anos montou seu próprio canal de vídeo.

Usando a câmera em seu laptop, ela e uma amiga estavam gravando algumas brincadeiras de adolescente e as transmitindo pelo YouTube para o mundo ver.
Para Ross, que vive nos subúrbios de Denver, essa foi não só uma maneira de enxergar o que se passa na cabeça de sua filha, mas também um símbolo dos novos obstáculos que os pais de hoje precisam enfrentar. Ela não contou a sua filha que havia se registrado para assistir o canal. A filha tampouco lhe disse que tinha um canal de vídeo na internet.
“É uma maneira diferente de conhecer seus filhos”, disse Ross sobre sua descoberta.


Vigiar ou não?
Os pais hoje podem usufruir de uma variedade de ferramentas para acompanhar as vidas digitais de seus filhos, o que levanta novos dilemas. Será que vigiá-los é a melhor maneira de protegê-los? Ou os pais devem confiar que as crianças contarão se ficarem com medo ou desnorteadas por algum conteúdo encontrado online?
As respostas são tão variadas quanto os próprios pais. Mesmo assim, as ansiedades dos pais na era digital criaram uma mini-indústria de empresas startups e empresas estabelecidas que comercializam novas ferramentas para rastrear onde as crianças vão online, que tipo de conteúdo eles encontram lá e o que fazem.

Como as crianças estão sempre ligadas em seus smartphones, a tecnologia pode permitir aos pais rastrear seu paradeiro físico e até mesmo controlar a velocidade com a qual dirigem.
De acordo com uma pesquisa recente da Cox Comunicações e do Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, uma família americana usa em média cinco aparelhos conectados à internet em sua casa, incluindo smartphones. Mas apenas um em cada cinco pais usa softwares de controle sobre esses dispositivos.

Falta de confiança
Em Richmond, Virgínia, Mary Cofield, 62, é uma das cuidadosas. Ela fez um acordo com sua neta de 15 anos de idade no ano passado. Mary ofereceu à neta um celular Android com um pacote completo de acesso à internet, desde que pudesse monitorar cada ação dela.
“Na minha opinião, você tem que participar de tudo isso para ajudá-los a saber o que é errado e o que é certo”, disse. “Proibi-los de usar essa tecnologia não funciona. Ou você decide participar com eles, ou eles irão usufruir desse mundo sem você.”
Pesquisas descobriram que dois terços dos pais monitoram a navegação infantil e quase 40% seguem seus filhos no Facebook e no Twitter. Mas um estudo realizado pelo Pew Research Center indica que este acompanhamento também costuma levar a discussões entre pais e filhos.
A tecnologia é tão ágil como adolescentes, mas nem os pais nem a própria tecnologia pode fazer uma leitura segura da mente de um adolescente. Às vezes as crianças desativam suas contas do Facebook, exceto à noite, quando sabem que seus pais provavelmente não estão logados. Eles navegam em novos sites, muitas vezes usando pseudônimos. Muitas vezes, falam em um código projetado para driblar a vigilância paterna.
Lynn Schofield Clark deu a sua filha de 11 anos de idade um iPhone desativado, apenas para ouvir música. A menina disse na mesma hora que um amigo na escola havia lhe mostrado como baixar um aplicativo que a permitiria enviar mensagens de texto e fazer chamadas - o que ia contra os planos dos seus pais.
Clark, autora de um livro sobre estilos de educação dos filhos e tecnologia chamado “App The Parent”, diz ter ficado aliviada porque sua filha tinha confiado nela. Ela espera que continue a confiar, assim ela não precisa controlar tudo que a criança faz online. “É muito fácil ceder à fiscalização”, disse ela. “Isso mina nossa influência como pais. As crianças interpretam a vigilância como uma falta de confiança.”

 

 

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