A culpa e a angústia acompanham escolhas que muitas vezes nunca serão feitas
Recentemente, a Rede Globo estreou a nova temporada do seriado “Aline”,
no qual uma jovem vive com dois namorados numa boa. Mas diferente da
ficção, estar entre dois amores tende a ser uma das escolhas mais
angustiantes para quem precisa optar por um só.
“Começa com um conflito entre emoção e razão: a emoção diz sim para os dois amores, mas a razão tenta seguir as regras sociais da monogamia”, diz Ana Canosa, psicóloga, terapeuta sexual e diretora da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana.
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos, o
principal sentimento experimentado é a angústia. “A confusão de
pensamentos, que mais parece um balanço infernal, gera muita ansiedade e
até depressão”, diz o profissional, que assina obras como “Ciúme – O
Lado Amargo do Amor” (Editora Ágora). Ele ainda ressalta que a culpa
pode ocorrer caso a pessoa tenha convicções muito fortes em relação à
monogamia e não aceite essa ambiguidade.
E não adianta fugir. Quase todos nós passamos por isso pelo menos uma
vez na vida. Segundo Ferreira-Santos, é natural amar romanticamente
duas pessoas ao mesmo tempo, o que não ocorre igualmente com a paixão.
São nas fases fragilizadas do relacionamento que ficamos mais
suscetíveis a olhar para outras pessoas. “É questão de ‘dar corda’ ou
não. Às vezes fica difícil manter-se distante diante de tanta atração.
Mas é importante atentar para a diferença entre amor e sexo. A energia
sexual é criativa, curiosa; a do amor é de bem-estar, de compromisso,
companheirismo. É comum continuarmos amando alguém e sentirmos forte
atração sexual por outra pessoa ao mesmo tempo”, como explica Canosa.
Vale lembrar que o sexo não é o único fator que deve ser levado em conta
na hora de decidir com quem ficar, como pondera Ana Canosa: “O que se
compara é incomparável, visto que geralmente os dois amores são pessoas
muito diferentes que têm qualidades distintas. Então, para quem tem que
escolher, há que se priorizar o que é mais importante para a convivência
além do sexo, como companheirismo, valores, etc.”.
Para aliviar a culpa, um pouco de teoria: de acordo com os
especialistas e estudiosos, não nascemos monogâmicos. A monogamia seria
uma condição moral e religiosa que, em certa altura da história, teve de
ser imposta para que os homens pudessem viver em sociedade. Mas se
ainda assim, diante de tal fato, a angústia insiste em não dar folga,
saiba que uma escolha – seja ela qual for – pode não aliviar muito a
barra. Escolher envolve abrir mão, arriscar-se e, acima de tudo, ser
honesto com as três partes envolvidas.
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