terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Vinho na praia: Vende pouco porque é muito caro, ou é muito caro porque vende pouco?

As férias estão acabando mas um fenômeno se repete todo ano: o preço abusivo e a qualidade duvidosa dos vinhos oferecidos em hotéis, resorts ou restaurantes de praia O serviço até que melhorou, as taças são adequadas, as garrafas na temperatura certa – graças a uma espécie de popularização das adegas climatizadas –, mas a lógica dos preços em vez de incentivar o consumo afasta quem poderia se arriscar nos brancos, espumantes e até tintos no seu momento de lazer, praia e mar.
A questão é: estes locais oferecem vinho, montam alguma infraestrutura para isso e aí escorregam na seleção dos rótulos e enlouquecem no valor cobrado. E aí quase ninguém opta pelo vinho – nem um refrescante branco na piscina, muito menos borbulhas na praia ou mesmo tintos nas refeições noturnas. Qual é o objetivo? Faturar muito vendendo pouco? É a inversão do famoso slogan dos biscoitos “vende pouco porque é muito caro ou é muito caro porque vende pouco?”.
Exemplos de arrepiar não faltam. Recentemente estive em praias do sul da Bahia e nos agradáveis restaurantes da Rua Mucugê, em Arraial d’Ajuda. Boa parte das casas oferece carta de vinho. Partindo deste pressuposto: se oferecem é por que há gente interessada, ou então é uma maneira de dar uma camada de sofisticação ao lugar. Ok, a variedade não chega a empolgar, mas os preços…

Vinhos nacionais a 700 e 500 reais


Em um restaurante italiano bem recomendado, por exemplo, o vinho parecia ter um tratamento diferenciado. Os garçons até vestiam aventais com o logotipo da vinícola Miolo. De fato a carta tinha um cuidado maior. Mas topei com preços de fazer corar o Michel Rolland (consultor internacional e contratado da Miolo) e de fazer o novo sócio do grupo, Galvão Bueno, berrar “Epa! pênalti!” O Miolo Reserva saía por 60 reais (29 reais em qualquer supermercado e sites de compra). Mas o grande destaque foi o vinho ícone Sesmarias: ele seria meu se desembolsasse 700 (se-te-cen-tos) reais!  (A safra 2011 é vendida por cerca de 200 reais a garrafa no site da vinícola em venda antecipada em caixa de seis garrafas). O Storia Merlot, outro tinto ícone, este da Casa Valduga, saía por 500 (qui-nhen-tos!) reais (custa em torno de 160 reais nas lojas virtuais). Em compensação, justiça seja feita, havia uma seleção de italianos, talvez importação própria, com uma razoável relação custo-benefício diante deste descalabro. Mas era a exceção ao restante da carta.
Numa churrascaria na mesma rua, tintos argentinos mais comuns alcançavam a fronteira dos 100 reais. Um Terraza Alto del Plata (39 reais nos supermercados) cravava 115 reais na carta sem qualquer cerimônia. Muy amigo… No hotel em que estava hospedado um Concha y Toro Reservado (algo como 25 reais nas gôndolas), o mais baixo escalão da cadeia alimentar da gigante vinícola chilena, era oferecido a 56 reais; ao optar por uma qualidade maior, um Marques de Casa  Concha (80 reais em média), também da Concha y Toro, o cliente desembolsava a bagatela de 180 reais. Espumantes nacionais variavam de 90 a 120 reais.
Nas mesas em quase todos estes restaurantes rara taças cheias de vinho. Volto a perguntar. Qual é a lógica? Vende pouco porque é muito caro ou é muito caro porque vende pouco?
All inclusive, all garbage
Mas a armadilha pode ser pior. Ao escolher estes resorts all inclusive, você inclui também o risco de contrair uma dor de cabeça danada se for beber o vinho que oferecem nas refeições e os espumantes na piscina. No caso do hotel que fui em outra ocasião, próximo à praia do Forte, os vilões eram rótulos espanhóis – o grupo dono do hotel é espanhol –, provavelmente produzidos exclusivamente para a rede de lazer. Era o que estava incluído no pacote. Se todos os tintos e brancos do mundo se resumissem aquilo lá, eu abdicava desta bebida e ia tentar outra coisa mais prazerosa: milk-shake, por exemplo. Um dia avistei um rótulo diferente nas mãos de um garçom que encheu minha taça no enorme salão que servia de restaurante. Parecia que voltava a provar um caldo fermentado de uvas de verdade e não um extrato de quinta extração. Fui checar e era um syrah mais comum do Terra Nova, um empreendimento da Miolo no Nordeste. Não é nada demais, mas perto do que me ofereciam até então, era tudo de bom. Tudo é relativo nesta vida, não é?
Se você aprecia um vinho é sempre bom questionar ao agente de viagens que tipo de rótulo está incluído no serviço. E lembre-se: não se contente com a informação de que são vinhos importados. A vítima, pode ser você!
No próximo verão… Bem, no próximo verão talvez a solução seja levar o vinho de casa.




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