quinta-feira, 1 de março de 2012

O Limiar - de Luiz Antônio Trevizani

"Sinto como se estivéssemos atravessando uma zona neutra, um espaço ou tempo vago, e custo a manifestar esse sentimento porque me faltam palavras.

Esse vago espaço imaginário, parece ser o limiar de um novo tempo, ou de uma nova consciência, e parece ser muito mais abrangente que só a mim.

Observo que muitas outras pessoas sentem o mesmo. O mundo será mesmo melhor daqui a algum tempo, ou será que estamos desejando apenas sair de nosso estado de sono inconsciente? Um mundo novo, melhor que o atual, só pode existir se o ser humano assim se transformar.

Olhando para trás, percebo pouca consciência em quase tudo o que fiz. Quanta bobagem eu fiz reagindo com meus "impulsos bioquímicos" e sem consciência! Talvez por isso eu escrevo e falo de consciência, provando que a gente sempre fala, escreve e manifesta com mais ênfase aquilo que mais necessita aprender, ou que mais deseja aprender - inconscientemente.

Percebo isso muito claramente em terapia. Meus clientes são meus mestres e espelham com grande fidelidade aquilo que preciso aprender e compreender de mim e da vida. Sou grato a todos que me ensinam espelhando minhas deficiências morais e espirituais.

E a consciência?

A consciência possui vários aspectos, de acordo com várias linhas de pensamento filosófico, cientifico e espiritualista, mas a experiência pessoal é única e muitas vezes não segue exatamente aquilo que se espera.

Talvez a melhor definição para o vago momento seja a busca por uma compreensão da espiritualidade mais concreta na realidade do mundo. Minha divagação não justifica nada, e sim reflete o momento de transição, no qual, ora me vejo crítico demais, ora condescendente demais.

Divagar é bom porque não me obriga a ter respostas prontas para tudo, e me permite explorar o universo humano e espiritual sem preconceitos, e a alma se fortalece no espírito que consegue extrair dos elementos da natureza forças espirituais e materiais que lhe enriquecem a consciência.

Deixemos de lado conceituações e consideremos consciência como um estado de observador diante da vida, da realidade, das nossas sensações e sentimentos, do nosso corpo, do nosso conhecimento, de tudo.

Consciência pode ser a luz do espírito refletida sobre a realidade, a nossa percepção mais aguçada e profunda.

Consciência pode ser um estado de reflexão permanente; uma visão abrangente da realidade, da luz e da sombra que somos, e nossas ações passam a não serem mais reações impulsionadas pela sombra somente, e sim ações refletidas em luz sobre a sombra. Podemos dizer que consciência é a nossa luz, a luz espiritual que abrange o alcance da alma; que une os dois lados da nossa alma – luz e sombra.

E o sofrimento?

A importância que damos às coisas as tornam mais ou menos valorizadas para nós. É assim que muita gente é feliz, enquanto outros sofrem. Dor faz parte da vida. Da dor de um ferimento ou doença, à dor de crescimento espiritual - todos nós sentimos dor. Sofrer é uma opção de cada um e está relacionada ao grau de importância que damos à dor.

Do mesmo modo, a relação nossa com os “problemas” está na importância que damos aos pensamentos negativos sobre o fato que gerou o problema. Problemas são apenas pensamentos, não são concretos, e refletem a nossa incapacidade de lidar com determinado fato.

No fundo, revela nosso apego demasiado e falta de aceitação de uma realidade, e envolvimento demais com o fato, que não nos permite lançar luz sobre ele.

O envolvimento e a demasiada importância ao fato gerador do problema dificultam o distanciamento necessário para a observação neutra – a zona da consciência. Sofremos por sermos inconscientes.

E o viver feliz?

Milhares de livros com receitas de como ser feliz e bem sucedido na vida são publicados ao redor do planeta. Vivemos tempos de super valorização da informação.

No século passado, e neste que está em sua primeira década, aprendemos a conviver com a informação, mas perdemos um pouco da nossa essência e nos afastamos um pouco da nossa natureza, porque acreditamos demais na informação sem usar de nosso senso crítico e discernimento, e de nossas experiências pessoais para transformar informação em conhecimento.

Temos pressa e digerimos tudo o que vem como verdadeiro, mas a informação só se transforma em conhecimento quando a levamos para algum tipo de experimento pessoal. Assim, uma vida longa, saudável e feliz quase sempre está dissociada do excesso de informação, e mais próxima de uma experiência pessoal natural.

A maioria dos casos de longevidade apresenta um modo de viver simples e natural, e a maioria das pessoas que alcançam longevidade são pessoas que não tem acesso a muita informação, ou são seletivos com ela, ou que dão mais importância ao seu conhecimento e respeitam a sua natureza; pessoas que não têm um cardápio com reservas de calorias, nem seguem um manual de boas maneiras prescrito por outros.

Simplesmente seguem o coração e cultivam uma alma esplendorosa e generosa; amam a vida, as pessoas, a natureza e a si próprios acima de tudo.

E agora?

Agora, simplesmente sejamos felizes, seguindo nosso coração, que é o centro gerador das energias psíquicas com as quais o espírito forma e sustenta a nossa alma. O manual do bem viver e todos os roteiros e receitas estão gravados em nosso coração.

A vida se manifesta fluindo por nosso coração, e até mesmo o Divino, que insistimos em buscar fora de nós, está em nosso coração. Um ser consciente possui um coração gerador de energias amorosas.

Um coração gerador de energias de ódio só cabe no peito de um ser que ainda possui apenas mínima consciência daquilo que lhe é útil ao ego. Como é o seu coração?
 
 

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