quinta-feira, 30 de junho de 2011

O AMOR É O SENTIMENTO DOS SERES IMPERFEITOS


O casamento semifeliz e outros tipos de relacionamentos

A pesquisadora americana Pamela Haag fala sobre novos modelos de casamento

 
Foi-se o tempo em que os casamentos estavam em crise ou estavam bem. Hoje é possível dizer que a união está “semifeliz” – um tipo de banho-maria em que um dos lados manifesta dúvidas de tempos em tempos. O relacionamento pode ser também um “casamento dos pais” ou ainda vítima da “síndrome de McMahon”, no qual um dos parceiros evita conflitos de opinião. Todos esses novos conceitos estão no livro “Marriage Confidential”, da pesquisadora Pamela Haag, ainda sem previsão de lançamento no Brasil.

Com base em conversas e pesquisas, Pamela identificou novas dinâmicas que se distanciam dos estereótipos de casais “felizes para sempre” ou que “brigam sem parar”. Em entrevista exclusiva ao iG, a autora explica as suas conclusões e afirma que as uniões estão ficando mais customizadas.

É bom ter em mente que semifeliz é melhor que infeliz ou miserável. Esses não são os relacionamentos estragados, mas aqueles acinzentados, em que um dos parceiros está confuso sobre o que fazer. É um casamento com vícios e virtudes, também são calmos e rotineiros. Às vezes um dos lados fica viciado nessa estabilidade e não quer agitar a maré. Essas uniões são mais viáveis quando a pessoa insatisfeita procura as paixões que precisa em outras coisas como trabalho, amigos ou com um hobby. Todos os casamentos passam por altos e baixos. É inevitável. Então é possível que ele passe por fases semifelizes. Mas alguns casamentos estão empacados na semifelicidade.

Você sabe que está em uma relação semifeliz se em um minuto não se imagina ficando nela e no seguinte não se imagina terminando tudo. Outro sinal é acordar no meio da noite pensando em divórcio, passar muito tempo se preocupando com a relação, racionalizando tudo. É possível que um dos parceiros apresente melancolia e o outro não faça ideia do fato ou do motivo, até que um dia a parte menos feliz diz: “não quero mais”. Pode parecer que isso surgiu do nada, mas a sensação de estranhamento já estava lá. Os relacionamentos semifelizes costumam parecer perfeitos do lado de fora e, quando acabam, os amigos dizem que não imaginavam que isso poderia acontecer.

A maioria dos divórcios acontece nos primeiros sete anos de casamento e muitos especialistas dizem que isso ocorre em função de ideais de perfeição, como o “felizes para sempre”. Mas eu não percebo isso, as expectativas não estão altas demais. Nas minhas entrevistas muitos diziam valorizar a base familiar, estabilidade e companheirismo que o casamento traz. Metade das pessoas concordou que o casamento hoje é mais uma relação de amizade do que qualquer outra coisa. Essas não parecem expectativas altas demais pra mim. Na verdade, em tempos que 50% dos americanos acreditam que o casamento está ficando obsoleto, o problema não parece ser as expectativas altas, mas sim as novas opiniões e expectativas baixas demais.

Os filhos marcam um grande ponto de transição no casamento. Hoje, porém, eles têm um papel paradoxal. De um lado as crianças são menos centrais na relação – há mais casamentos sem filhos e filhos de pais que não estão casados. Por outro lado, quando um casal resolve ter filhos, eles podem rapidamente transformar a união em um “casamento dos pais”, uma relação que é definida pelo volume de tarefas e energia emocional empregados na criação. Os cuidados paternais e maternais hoje são exagerados. Nos Estados Unidos, os pais são superenvolvidos e ansiosos, ao contrario de 50 anos atrás, quando eram um pouco mais indiferentes. Não fica claro se esse estilo atual é válido. Talvez esteja machucando mais o relacionamento do que ajudando aos filhos.

Acho que os casais agora terão conversas mais esclarecedoras antecipadamente sobre suas expectativas. Assim eles poderão decidir se a monogamia é realmente estrutural para a relação ou se faz sentido apenas para um período do casamento. Segundo a minha pesquisa, 22% das pessoas dizem que um acerto não monogâmico poderia funcionar, mas desde que seja acordado entre os dois.

Geralmente  Nas minhas conversas percebi que a peculiaridade dos relacionamentos duradouros não é tanto a compatibilidade, mas a capacidade do casal se adaptar e evoluir junto. No futuro também é mais provável que os casais adaptem o casamento aos seus valores do que adequem suas personalidades aos relacionamentos. O casamento está ficando mais customizado para cada casal.